projecto vencedor do prémio arquitectura do douro 2022
A arquitectura da Quinta do Saião destaca poucos materiais como evidentes e válidos; destaca os materiais pré-existentes – o xisto, o saibro, o reboco e o granito. Mas enquanto o xisto absorve todo o efeito da luz, dissolvendo as formas no fundo da paisagem, o reboco branco produz a luz sólida que se move e reflecte; e o granito que reveste as coberturas sobressai e recorta o perfil dos sólidos.
A intervenção arquitectónica utiliza a alvenaria de xisto em diversas funções construtivas, subtilmente implícitas no resultado arquitectónico. A alvenaria de xisto não tem, por si só, consistência estrutural. Pela sua grande espessura, ou pelos vazios que deixa nos interstícios do seu aparelho, o xisto é de exigente remate com os elementos e as camadas funcionais da envolvente construtiva…O projecto concentra-se, por isso, e caso a caso, no especial detalhe dessas transições.
Nos edifícios em xisto as estruturas são de betão armado e a alvenaria actua como material de revestimento. Partes significativas das ruínas são incorporadas e no processo tornam-se consistentes. Alguns corpos, mais consistentes, ganham autonomia e permanecem entre as novas geometrias ajustadas. (o pátio da Casa da Eira, a varanda e o forno da Casa do Forno …). A tensão do projecto acumula-se entre fachadas. No Lagar de Azeite e na Casa Principal a introdução de rebocos armados permitiu conservar partes das paredes de xisto tornando-as estruturalmente consistentes.
A utilização de argamassas de cal hidráulica confere às paredes um comportamento flexível , permitindo eliminar as juntas de trabalho, na união com os pavimentos térreos. As superfícies sólidas e contínuas, onde o branco é dominante, interrompem-se e enfatizam partes da pré-existência: uma pequena escada ou um afloramento de rocha desaterrada… As estruturas em madeira – janelas, coberturas, corpos ou peças de mobiliário – sobressaem no espaço, adquirindo protagonismo e abstracção.
O projecto de arranjos exteriores confirma as estratégias expressivas utilizadas nos edifícios: superfícies contínuas em saibro ou calçada, - delimitadas por perfis laminados em ferro e interrompidas pelas rochas e as árvores existentes -reforçam a afirmação das construções na paisagem, enquanto nivelam e consolidam as plataformas.
O projecto reage às especificidades das construções existentes e encontra um enquadramento de intervenção híbrida, contida e comprometida com as contingências do lugar. A arquitectura, contudo, não prescinde de afirmar, através do rigor desenho e da pormenorização construtiva, a expressão da sua contemporaneidade.
Ficha técnica:
arquitectura por Paula Sousa Pinheiro,
em colaboração com:
Christiaan Flotman, Edgardo Cechinni
fotografia:
Luís Ferreira Alves
projecto de estruturas:
A3R, Engenharia, lda
projecto de instalações eléctricas e ited:
projecto de instalações mecânicas de climatização:
projecto de drenagem de águas pluviais:
projecto de drenagem de águas residuais:
projecto de segurança contra incêndios:
projecto de condicionamento acústico:
projecto de comportamento térmico:
DAJ, engenheiros associados, lda
gestão e fiscalização:
AFAPLAN, Planeamento e Gestão de Projectos, S.A.
empreitada:
Invénio, Engenharia Cosntrução e Obras Públicas, lda
Lusocol, Sociedade Lusa de Construções, lda
Brígida e Dinis, Sociedade de Construções, lda
reconstrução de assentamento agrícola, m2
projecto entre 2006-07
execução entre 2007-12