O projecto da casa Côrte-Real definiu-se da análise do que muito directamente o condicionava: uma família, um estreito e difícil lote - com 8 metros de largura e 44 metros de profundidade - um orçamento limitado, um regulamento municipal…Concluído, não me é possível imaginá-lo diferente, embora reconheça que poderia tomar mil formas distintas…
A dificuldade do projecto consistia em organizar e compactar o programa da casa e libertar o terreno, excessivamente profundo, sombrio e desvirtuado pelas construções adjacentes.
Volumes autónomos e sequenciais definem dois percursos laterais, o de acesso à entrada da casa e o de acesso ao jardim. Instauram-se numa matriz compositiva com nítida presença e autoridade, utilizando para implantar-se uma interpretação das imposições normativas do plano municipal.
Na entrada, os alpendres inclinados procuram a cota do muro em pedra e deixam antever o volume superior que encosta à construção existente: - distanciados da frente da rua, projectam os espaços de estar para a extremidade do lote, possibilitando que estes estabeleçam uma relação directa com o jardim do lado sul.
Entra-se no interior das diferenças de piso, das fontes de luz de pequena escala - diferenciadas e intersticiais, tal como os corpos que as determinam - e o espaço expande-se verticalmente, tentando contrariar a estreiteza do lote. O branco, tema dominante na arquitectura da casa, recorta o espaço e reforça a depuração dos volumes.
Neste processo, o problema dos limites, das fronteiras, assume protagonismo e desafia as convenções construtivas: as juntas formais - a ponte de ligação entre os corpos, ou os alpendres de entrada – as juntas materiais – na transição entre sólidos e vazios, entre interior e exterior. Cada detalhe, sempre uma junta, conta-nos a história da sua execução, do seu posicionamento, da sua significação no contexto da obra. Conta-nos da possibilidade de inovação e invenção promovendo a acentuação da forma.
Ficha técnica:
arquitectura por Paula Sousa Pinheiro
em colaboração com:
Edgardo Cechinni, Marcos Magalhães
fotografia:
Luís Ferreira Alves
projecto de estruturas:
Victor Abrantes - Consultoria e projectos de engenharia, lda
projecto de infra-estruturas hidráulicas:
Victor Abrantes - Consultoria e projectos de engenharia, lda
projecto de infra-estruturas de gás:
instalações e equipamentos mecânicos:
Paulo Queirós de Faria, engenheiros consultores, lda
projecto de instalações eléctricas:
Gatengel, projectos de engenharia, lda
empreitada:
RPM, sociedade de construções, lda
habitação unifamiliar, m2
execução terminada em 2011